Nosso inesquecível cronista Sergio Porto, conhecido como Stanislaw Ponte Preta, era mestre em flagrar momentos inusitados da vida, com sua narrativa ágil e bem humorada. Dentre todas, “A velha contrabandista” é a minha preferida. Só para lembrar aos que já esqueceram, ou apresentar a quem ainda não leu, vou resumir o texto:
Uma velhinha passava, todo dia, pela fronteira, com um saco atrás de sua lambreta, o que começou a deixar o pessoal da Alfândega cabreiro… Aí tinha “truta”… Depois de certo tempo acompanhando o ritual diário, os fiscais resolveram interpelar a velhinha para ver o que ela carregava dentro do saco. Era areia. Inconformados, passaram a fazer a revista diariamente, obtendo sempre o mesmo resultado: areia. Morto de curiosidade, um dos fiscais, já com 40 anos de serviço, propôs à velhinha que, se ela contasse qual era o verdadeiro produto do contrabando, nunca mais seria abordada. Ela contou: era lambreta.
Ouvindo o noticiário de hoje, me lembrei do Stanislaw e sua maneira divertida e quase imperceptível de cutucar a sociedade através de histórias insólitas. E me pus a imaginar um roteiro para o autor nos moldes da “Velha Contrabandista”, adaptado aos novos tempos e às novas falcatruas. Mas sem “meias e cuecas”, que estas já ficaram para trás. Agora, o hit é outro. Seria assim:
Diz que era uma dessas peruas onde cabia uma família inteira. Das grandes. Todo dia ela passava pela fronteira carregada de crianças. O pessoal da Alfândega – tudo malandro velho – começou a desconfiar da van metida à besta. Um dia, próximo à Páscoa, eles a interceptaram e perguntaram ao condutor o que ele transportava.
-Crianças, né! Meus filhos. Olha as certidões… – respondeu o homem sorrindo.
Aí quem sorriu foi um fiscal. Mas, examinando tudo, só achou meleca. Pudera! Cada pimpolho se lambuzava com seu ovo de chocolate. Nada encontrando de suspeito, ordenou ao motorista que fosse em frente.
Mas o fiscal, desconfiado ainda. Talvez o cara levasse a muamba dia sim, dia não. Por isso fez a revista durante uma semana toda. E, nada! Diz que foi aí que ele se chateou:
-Olha, Zé (nessas alturas já eram íntimos), eu sou fiscal de Alfândega há muito tempo. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que tu é contrabandista.
-Mas eu só levo meus filhos pra passear…
-Todos os dias? E eles não vão pra escola?
-Claro, seu guarda! É só até terminar a greve das professoras… lá no meu município…
 Então o guarda propôs:
-Eu te prometo que não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas tu vai me dizer: onde está o “contrabando”?
-Promete que não espalha? – quis saber o motorista?
-Juro- respondeu o fiscal.
-Está dentro do “Kinder ovo” das crianças…
-Pedras preciosas?- perguntou o fiscal, de olhos arregalados.
-Tomate.