O feriado de Páscoa me levou até o litoral. Logo após Carlos Barbosa, o desafio da buraqueira da São Vendelino. No volante, a mente circulando, o difícil raciocínio de entender como Bento se expõe a humilhação de aceitar tamanha precariedade das rodovias de acesso. Lideranças entendem que sermos receptivos, cordiais é o suficiente para termos o que merecemos diante de nossa importância socioeconômica. Outrora brigávamos muito pelas coisas que queríamos. E conquistávamos. Hoje, nem tanto quanto deveríamos. Assim, acessarmos a Freeway, pela S. Vendelino, ou, BR 101 pela Rota do Sol, é um martírio. Enquanto nos limitarmos a festejar a beleza de Bento, construída por governantes e lideranças do passado, a região se mobiliza, de forma intensa. Gramado dispara, tem milhões no banco para suportar seus eventos. Os Aparados da Serra terão seus acessos e investimentos privatizados com a determinação de triplicar o número de turistas. Com Gramado e Canela sendo contemplados anualmente com a visita de milhões de turistas, com os três parques dos Aparados privatizados, somando-se a eles Caxias e seu aeroporto de Vila Oliva, que vai acabar saindo, e rápido, vamos sentir um impacto em nosso plano de desenvolvimento turístico, não que o fluxo irá diminuir mas não aumentará. Nas próximas edições vou me aprofundar no assunto assim é que volto a minha ida ao litoral.

Na Freeway, de repente, me deparei com a presença de uma família dentro de um fusca antigo, tive um desses, fui até o Rio de Janeiro com ele, cor marrom, parecido com aquele da Da. Anna Variani. E, dentro dele, uma família que parecia muito feliz. O pai dirigindo e a mãe voltada para duas crianças, sentadas atrás. Vendo aquela felicidade rumo a praia, vendo aquele veículo contrastando com os carrões e carrinhos zero circulando pela rodovia, fiquei a refletir que a felicidade não tem nada a ver com o poder econômico. O segredo está em se contentar com o que se tem. No entanto, é visível que as famílias humildes, de poucas posses, estão privadas até de pequenos prazeres como esse de levar as crianças a praia. O salário mínimo, segundo o DIEESE, deveria ser de R$4.052,65, o que significa que uma família não consegue viver sem o orçamento familiar, somando-se os rendimentos dos pais e filhos em condição de trabalhar. Mesmo com este orçamento familiar será difícil alimentar-se de forma saudável, será difícil pagar os estudos, será difícil vestir-se, e será difícil ter momentos de lazer.

Assim, as famílias desesperançosas de ter perspectiva futura, desesperadas de constatar que seus filhos sofrerão muito para ingressar e se sustentar no mercado de trabalho. Assim, nos fins de semana, ficam confinadas em suas casas, resignadas, reflexivas, circunstâncias que se agravam diante da falta de um parque público, de ciclovias e outras circunstâncias positivas que se refletiriam em qualidade de vida. O desemprego atinge 13,1 milhões de brasileiros, diz o IBGE. Há uns cinco anos atrás, quando o Brasil tinha 9 milhões de desempregados eu dizia, no âmbito de minha empresa, que logo, atingiríamos os 12 milhões, como vou dizer agora que estamos caminhando para 15 milhões até o final do ano. É só olhar e ver, sem desenvolvimento industrial, sem obras de infraestrutura que desenvolveriam o país, sem incentivar o empreendedorismo, sem as reformas necessárias, não temos como gerar empregos. É preciso que se diga também que um quarto dos brasileiros vive com menos de 5,5 dólares por dia (vinte reais). E mais, que quase 40% dos brasileiros estão com o nome negativado, são simplesmente 59,9 milhões. Como se isso não bastasse diga-se que o número de brasileiros que desistem de procurar trabalho triplicou.

A realidade é mais triste ainda, 1% mais ricos contra 28% de toda a renda do Brasil, apontou estudo. Entre os desempregados 28% são mestres e doutores. Você está consciente disso? Então, parabéns pois saiba que o Brasil ocupa o segundo lugar, só perde para a África do Sul, no ranking da ignorância sobre a realidade. Assim é que os estudos divulgados dão conta que “estamos formando uma geração de inúteis, os pais se queixam com o excesso de preguiça dos filhos, da falta de produtividade e da empatia pela vida. Esta situação, creio eu, contribui, decisivamente, para que, como se noticiou, 11 milhões de brasileiros estejam em depressão, o que constitui um potencial para o suicídio que já é considerado uma epidemia”. Os homicídios são uma epidemia, mas os suicídios também merecem atenção porque alertam para o sofrimento imenso, que faz o jovem tirar a própria vida” alertou Waiselfisz, coordenador da área de estudos da violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais. Vejam o que o empresário Clovis Tramontina, pediu para o Governador de São Paulo, João Doria. “ Governador, dê uma olhada para o sistema habitacional brasileiro”, justificando que o problema do Brasil é o desemprego e que a construção civil encaminharia a solução. E vejam o que disse, há poucos dias, ao falar para os empresários Caxienses, Luis Roberto Ponte, presidente da Sociedade de Engenharia do RS: “ o desenvolvimento econômico, o empreendedorismo, são a única saída para o Brasil. Não é preciso só atrair empresas, mas também respeitá-las e tratá-las com dignidade. Empresários que cumprem a lei são produtores de bens que tiram as pessoas da miséria e geram trabalho e renda. Alguns empresários, porém, tem que mudar a postura, ganham dinheiro e empinam o nariz, tratam com desdém os desvalidos”. Lendo isto, não me digam que será fácil o Bolsonaro aliviar este fardo que carrega a sociedade Brasileira. Bem, vou aliviar, eu estava indo ao litoral.

Como está bonita e competente a Freeway, graças aos pedágios de quem eu sou fã. Em Xangri-lá recebi o convite de um amigo para visitar sua Imobiliária em Capão. E ele me levou visitar um dos apartamentos que estava comercializando, talvez para me dar uma ideia da dimensão dos negócios que sua empresa abraçava. No prédio que visitei o “General” Bolivar, do Inter, tem um apartamento. Na saída, quem eu encontro? O Dr. Danilo Baldi, com sua inseparável BIKE. “Foram 250 quilômetros”, ele disse. Bento-Gramado-São Francisco-Capão, por vias vicinais. Em São Francisco ele postou foto no face, que eu visualizei no posto do Graal, na Free. Vejam a coincidência, lá estava ele na minha frente em Capão, na chegada. Ao colocar um ponto na “chegada”, me veio a mente a escolinha do Professor Raimundo, aquele quadro “saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”. Nessa premissa parece se nortear o Dr. Baldi. Fim de espaço.