Então, o verão tórrido deste ano fez as malas e partiu. Oficialmente, porque ainda fica bisbilhotando pelas frestas do outono, que chegou no dia vinte e um, oficialmente. Quem anunciou sua chegada foi o tal Equinócio, que nada tem a ver com “equino com ócio”. Ou será que tem? Bom, não ouvi queixa dos cavalos, mas as pessoas costumam se entregar a uma espécie de preguiça interior apenas debelada pelo sol. É preciso muita luz para afastar a vulnerabilidade pintada pela estação.

Falo de carteirinha. O outono me pegou de jeito e se instalou nas articulações. E precisei redefinir minha jornada, deixando para trás coisas que já foram muito importantes, para substituir por outras, ora imprescindíveis. Assim como as árvores: as folhas caducas cairão, e a energia ficará concentrada no tronco e galhos. De outro jeito, a seiva acabaria.

Tudo bem, não estou caduca, nem pretendo acrescentar o “ainda”. Longe de mim essa hipótese. Mas a reserva energética me exige algumas despedidas, para poder encarar o inverno que vem aí…

Nada é eterno. A vida tem ciclos. E o outono representa, nas palavras do novelista Manuel Carlos, “declínio e colheita, perda e proveito.” Sentirei saudades das “folhas” que a nova estação me rouba, mas, por outro lado, terei mais fôlego para ousar e abusar das coisas que só a liberdade dá acesso.

É isso! Estou me despedindo de um ciclo pra começar outro que, embora rotulado de “aposentadoria”, pretendo que seja muito mais dinâmico e menos limitador. Mas não há como negar: as águas de março são inevitáveis…
Ah! Nunca me aposentarei do ato de escrever. Ao menos, enquanto houver leitores…

Por falar em aposentadoria, lembrei de uma historinha que já contei aqui, mas há tempo suficiente para ser esquecida.

Era uma professora meio maquiavélica, meio manipuladora, dessas que pegavam no pé dos alunos pois conheciam a sua vida de trás pra frente. Mas o destino se encarregou de lhe dar o troco.

Depois de aposentada, a mulher procurou aulas de informática, para não ser excluída do mundo moderno. Ao ver o professor, lembrou-se do filme “Meu Passado me Condena”. Estava diante de um antigo aluno que, por sinal, nunca se deixara formatar e que tinha uma memória muito “RAM”.

O instrutor encarou a tarefa com aparente indiferença… até o dia em que a flagrou xeretando no seu (dele) perfil.

Então, do computador central, mandou o seguinte recado para a aluna:
-Naum meta o nariz ond vc naum he chamada.

Mostrando inesperada capacidade de resiliência, ela deixou para trás seus preconceitos linguísticos e respondeu:
-Recbi mgs. Kara feia naum me açusta! Kmbio! Desligo.

Estava na porta, quando resolveu retornar para um último recado:
-E naum pensa q naum sei o q você fez no verão passado…