Sim, estou fazendo academia. Não, ainda não perdi peso. Mas, se eu perder, e alguém achar, por favor, não me devolva.

Dito isso, vamos ao choque. Cena clássica hollywoodiana: eu, na esteira, em velocidade máxima – máxima permitida nas curvas – quando, de repente, o professor/instrutor me corrige a postura e… “Ai!” – exclama ele – Que choque!”

Foi aí que caiu a ficha. Ando elétrica demais, acumulando uma carga de muitos volts em minhas moléculas. Às vezes, pra pentear o cabelo, precisaria de fio-terra. Na falta de, resolvo com o velho e bom “laquê”.

E tem o computador, que vive “dando pau”. Será que jogo eletrecidade na máquina quando teclo? Provavelmente esteja danificando a memória ram, que já deve ter virado sapo.

Também quebrei a maçaneta da porta dia desses, e me responsabilizam pelas avarias nos controles da televisão. Se continuar assim, vou dar fogo na casa com tanta faísca… às vezes atrasada.

Pesquisei. Isso se chama energia estática. Para medir minha amperagem, precisava fazer experiências. Na primeira, enchi dois balões, amarrei nas pontas de um fio de linha, esfreguei ambos nos meus cabelos, de modo a ficarem carregados com o mesmo tipo de energia. Pelo princípio (aplicado até nos casamentos), cargas opostas se atraem, e cargas similares se repelem. E então… não deu certo. Os balões deveriam ter se repelido, mas eles estavam mansos que nem cordeirinhos. Será que esvaziara a corrente na grama, quando fui apanhar limões descalça?

Parti pra nova experiência. Depois de esfregar novamente um dos balões cheios no meu cabelo, abri a torneira da cozinha e deixei um filete escorrendo. Então aproximei o balão para mover a água. E… Nothing!

Não entreguei os pontos. Na terceira experiência, repeti o procedimento e tentei colar o balão na parede. Não colou. Decididamente, minha energia estática se fora.

Com o couro cabeludo doendo de tanta fricção, resolvi dar um tempo e relaxar na cadeira do papai. Num gesto automático, liguei a TV. Passava, direto da Câmara, a sessão “Não vale a pena ver de novo”, com a novela “Não há bem que sempre dure, nem MALA que nunca acabe”. Atores? Os de sempre! A trama? Já conhecida. O final? Previsto.

Apesar da repetição do enredo, os átomos que compõe meu corpo começaram a ficar inquietos, irritadiços, estressados diante da cara deslavada de políticos proclamando a “honestidade, moral e ética” de seus pares. Os elétrons dançavam freneticamente em torno do núcleo das minhas células. Quando vi, já estava com uma corrente de 12.000 volts percorrendo meu sangue. Por pouco não virei a versão feminina do Hulk.

Está aí, professor, uma boa estratégia para agitar os seus alunos da academia: passar, nas TVs da sala de musculação, as sessões do Congresso Nacional. Mas saia de perto!