Sua matéria-prima, o cacau, era considerada por maias e astecas o alimento dos deuses. Tamanha veneração talvez tenha se originado da dedução de que as sementes do fruto do cacaueiro escondiam diversas propriedades. Se eram realmente divinas, isso ainda carece de comprovação. No entanto, quase cinco séculos depois de os espanhóis enriquecerem o paladar europeu com um dos sabores do Novo Mundo, sobram evidências científicas de que o chocolate amargo, guloseima com um gosto peculiar justamente por ter maior teor de cacau na sua composição, promove uma série de benefícios para a nossa saúde.

Os resultados de uma das pesquisas mais recentes sobre esse chocolate confirmam que ele protege o coração. O estudo revela que seu consumo rotineiro reduz os níveis da pressão arterial. O trabalho avaliou 44 pacientes entre 56 e 73 anos, pré-hipertensos ou no estágio inicial do problema. Durante 18 semanas parte deles consumiu 30 calorias diárias, ou 6,3 gramas de chocolate amargo, algo equivalente a um único pedaço de uma barrinha. Os demais participantes ingeriram o tipo branco.

Aqueles ínfimos 6,3 g derrubaram a pressão que o sangue exerce sobre os vasos a máxima, ou sistólica, em 1,6 mm de mercúrio e a mínima, a diastólica, em 1 mm de mercúrio. Além disso, a prevalência da hipertensão problema que acomete cerca de 1 bilhão de pessoas no globo e é responsável por milhares de casos de infarto e derrame caiu de 86% para 68%.

A queda de cada 2 milímetros de mercúrio na medida da pressão máxima já diminui bastante o risco de AVC ou infarto. No estudo, provou-se ainda que tudo isso pode se dar sem alterações no peso e nas taxas de açúcar e gordura na circulação.

O segredo do chocolate amargo está na altíssima concentração de certos flavonóides, como as catequinas, substâncias encontradas no cacau. São elas que agem nas artérias, promovendo a queda da pressão.

Esses compostos elevam a produção de óxido nítrico, um vasodilatador natural. O endotélio, a camada interna das artérias, fica mais flexível, assim o sangue passa por ali gerando menos pressão.

Para que isso ocorra é preciso que o consumo do alimento seja diário. Bastam de 30 a 40 gramas, ou quatro quadradinhos daqueles tabletes grandes. Outra boa notícia: o chocolate amargo não contribui para a subida do colesterol. Os polifenóis impedem a oxidação do LDL, o tipo ruim da gordura. Eles sequestram essa molécula, formando um complexo solúvel que é eliminado pela urina.

Uma pesquisa japonesa investigou o papel da procianidina, outro componente do chocolate amargo, no controle do diabete tipo 2. Roedores obesos e com o mal consumiram uma beberagem de cacau rica na substância. Passado um tempo, os níveis de açúcar no sangue dos bichos caíram. Segundo os pesquisadores, isso pode ter ocorrido porque as tais procianidinas melhorariam a eficiência da insulina, o hormônio que bota a glicose dentro das células.

Esse tipo de suplementação preveniu o diabete em camundongos obesos. Pesquisas com o chocolate amargo cheio de flavonóides mostraram que a ingestão de 100 gramas diários poderia garantir o mesmo benefício aos humanos, algo que ainda requer mais evidências. Portanto, se você é diabético, é cedo para sair se empanturrando.

Na Espanha, uma pesquisa também focou sua mira nos flavonóides do cacau, mas dessa vez com o objetivo de avaliar sua ação no sistema imune de ratos jovens, principalmente em células do batalhão das defesas, como os linfócitos e os macrófagos. Os animais receberam uma dieta enriquecida com o alimento durante três semanas. Depois os especialistas chegaram à conclusão de que houve um aumento na atividade de certas áreas envolvidas com a imunidade.

Isso se verificou com maior intensidade no timo, órgão situado no tórax e responsável pela maturação dos linfócitos T, nossos guardiões contra vírus e bactérias. Descobriu-se também que o cacau protege os neurônios dos efeitos dos radicais livres. Mas e o chocolate com isso? Ele é feito com massa de cacau, onde se encontram os flavonóides do fruto. E repete o que todos os estudos já apontam: Dentre todos os tipos, o chocolate amargo é o que mais contém esse tipo de composto. Assim, ele é o único que pode ter um bom impacto na saúde.
Além de não deixar o organismo fraco e vulnerável, o alimento mantém o humor da gente em alta.
Sem falar na fenilalanina e na tirosina, dois aminoácidos que são precursores da noradrenalina e da dopamina, outra dobradinha envolvida no estado de felicidade natural. Quer motivo melhor para curtir esse sabor amargo? Bom apetite!

É importante salientar que o consumo desse doce deve ser feito com muito controle e cuidado, especialmente para diabéticos.

Fonte: mdemulher.abril.com.br