Prestes a completar três meses em que o Presidente Jair Bolsonaro assinou o decreto que facilita a posse de armas de fogo para civis, Bento Gonçalves já sente o reflexo no aumento pela procura e venda efetiva no comércio de armas. A principal mudança do decreto, assinado no dia 15 de janeiro deste ano, está na maior flexibilidade do trecho da lei que diz respeito à comprovação da necessidade de ter uma arma em casa. Outra mudança está no prazo de validade da autorização da posse, passando de cinco para dez anos.

Apenas na loja Construpesca, o aumento da venda de armas, nos três primeiros meses de 2019, em comparação ao mesmo período do ano passado, foi de 20%. “A nossa expectativa é que aumente mais ainda, como já está acontecendo gradativamente, um pouquinho por mês. A estimativa para esse ano é muito positiva, já está sendo, devido a esse aumento nas vendas”, destaca Rosângela Julkoski, auxiliar administrativa na loja.

No Rio Grande do Sul, de acordo com dados o Sistema Nacional de Armas (SINARM), até o dia 31 de março deste ano, foram emitidos 1040 novos registros de armas para pessoa física. Em todo ano de 2018, o número de novos registros emitidos foi de 5333.

O instrutor de tiros, Amilton Ribeiro, também sentiu o crescimento da busca por pessoas que querem aprender a atirar. “O aumento começou em janeiro, mas fevereiro e março também teve uma grande procura, principalmente para o curso particular, individual. As pessoas estão vindo diretamente buscar o curso, sem esperar por turmas, são casais, empresários”, conta.

Ribeiro acredita que esse aumento da procura se torne cada vez maior. “Ano passado a media era de 12 a 15 pessoas por mês, para esse ano, estou prevendo uma media de 30 pessoas por mês, podendo até aumentar”, afirma.

Quem vai poder adquirir uma arma?

Para que um cidadão tenha o direito de ter a posse de arma em casa, é necessário preencher alguns pré-requisitos: ser maior de 25 anos, ter ocupação lícita ou moradia fixa, capacidade psicológica comprovada, curso para manejar a arma, não estar respondendo a inquérito policial ou processo criminal e não ter antecedentes criminais nas justiças Federal, Estadual, Militar e Eleitoral. Os testes psicológicos são realizados com instrutores credenciados pela Polícia Federal e a comprovação de capacidade técnica de atirar deve ser atestada por instrutor de armamento e tiro, também credenciado pela Polícia Federal. “O instrutor vai orientar e ensinar o básico para pessoa ter noção de como atirar. Não é inacessível, mesmo para aquela pessoa que nunca pegou uma arma na mão, ela vai aprender a atirar e vai ter que atirar bem, senão, tem que repetir o teste até conseguir passar, da mesma forma é a avaliação psicológica”, explica Rosângela.

De acordo com Ribeiro, o curso básico de tiros para ter o certificado de manejo de arma varia de 4 a 6 horas e o custo varia entre R$300 e R$400 reais. “A pessoa ganha o certificado que o clube fornece e eu assino como instrutor de tiro, então a pessoa já tem um documento em mãos”, afirma.

Ainda de acordo com Ribeiro, 80% das pessoas que procuram o curso são totalmente leigas no assunto, as demais têm um pequeno conhecimento. “O curso se divide entre teoria e prática. A parte teórica tem cerca de duas horas. Depois tem a prática, com armas de calibre 38 e pistola 360”, relata.

Assunto é polêmico e divide opiniões

Quem é a favor da posse de armas, defende que todo cidadão brasileiro tem direito a legitima defesa. Quem é contra, argumenta que haverá um aumento da violência. Para o Secretário de Segurança de Bento Gonçalves, José Paulo Iahnke Marinho, as pessoas têm direito de ter uma arma em casa e tentar se defender. “A partir de agora, o delinquente, ao tentar, por exemplo, invadir uma residência, nunca vai saber se aquele cidadão está armado ou não”, acredita.

Secretário de Segurança de Bento Gonçalves, José Paulo Iahnke Marinho

Questionado pela reportagem se a população está preparada para usar uma arma, o secretário afirmou que isso vai depender de cada caso. “Toda orientação dos órgãos de segurança é para que as pessoas não reajam quando estão diante de uma situação de enfrentamento, que não é o melhor caminho, mas pelo menos permite que a pessoa tenha um mecanismo de defesa”, afirma Marinho.

Sobre a segurança no nosso município, Marinho acredita que o armamento da população não vá interferir nos índices de violência. “Esperamos melhorar a nossa segurança a partir do momento em que aplicarmos políticas públicas. Em Bento, o que temos verificado é o tráfico de drogas, briga entre facções, não tem nada a ver com latrocínio, assaltos, roubos”, justifica.

O motorista Moises Rodrigues acredita que essa situação tem o lado bom e ruim. “As pessoas vão ter mais segurança em casa, mas pode acontecer de os bandidos terem mais armas”, declara. Por outro lado, o aposentado Manuel Rodrigues, defende que se a pessoa não sabe realmente lidar com uma arma, então é melhor nem ter.

O aposentado Manuel Rodrigues (e) e seu filho Moises Rodrigues(d) opinaram sobre o assunto

Bolsonaro diz que assinará mais um decreto para liberar armas

Na última quinta-feira, 11, o Presidente Jair Bolsonaro anunciou que na próxima semana vai assinar um novo decreto sobre armas. Desta vez, o público alvo será os colecionadores, atiradores e caçadores (CAC).

O Presidente ainda não informou detalhes sobre as alterações, mas antecipou que “irá facilitar muito” a vida das pessoas que têm autorização para uso de armas dessa categoria.