Após homologar em 2017 alterações que visam qualificar o ensino na educação infantil e fundamental, o Ministério da Educação (MEC) volta suas atenções para os anos finais. Desde 2015, o Conselho Nacional de Educação (CNE) está analisando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que pretende estabelecer conceitos e habilidades essenciais que devem fazer parte das grades didáticas de todas as escolas, públicas e privadas de Ensino Médio no Brasil.

A ampliação da carga horária, subtração de disciplinas e a divisão do conteúdo por áreas do conhecimento (humanas, exatas, biológicas, etc.) são algumas das propostas apresentadas no documento. O objetivo é estancar a evasão e a queda nos índices de aprendizagem, além de torná-la atual e conectada aos jovens.

Com novos conceitos, as alterações exigirão que as escolas passem por mudanças do ponto de vista de estrutura e metodologia, que atinge espaços físicos e de preparação de profissionais. A reportagem do Semanário conversou com o coordenador da 16ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Leonir Olimpio Razador, e a pedagoga da entidade, Sídia Dall’Osbel Prezzy para entender as exigências e as carências das instituições de Bento Gonçalves, quanto às adaptações elencadas na BNCC.
Conforme Sídia, as Coordenadorias de Educação do Estado (CRE’s) se reuniram em Porto Alegre, na quinta-feira, 12, para debater sobre a Base Nacional. Ela destaca que ainda não há definições e até a proposta ser homologada novos estudos e modificações devem ser apontados.

Coordenadora pedagoga da 16ª CRE, Sídia Dall’Osbel Prezzy, afirma que os estudos sobre a BNCC nas escolas já começaram. Foto: Lorenzo Franchi.

Novo Currículo

A coordenadora pedagógica ressalta que a mudança maior se dará no fundamental. “A Base Comum Curricular do Ensino Fundamental foi aprovada agora na terceira versão. Em cima desta base, foi criado o Novo Referencial Curricular do Rio Grande do Sul, qual se somam várias entidades, como as educações do Estado, Município e rede particular”, explica.
Quanto a dúvidas relacionadas à exclusão de disciplinas como História, Filosofia e Educação Física, Sídia esclarece que o documento não pede que uma matéria ou outra venha a desaparecer, mas o foco será diferente. “A nova base curricular se detém na formação integral do indivíduo, o que ela nos apresenta e não mais essa divisão. O ‘todo’ pedagógico será diferente, a forma, os conceitos terão uma atualização”, disse.

Implantação

Buscando estar alinhado as propostas do MEC, a Coordenadoria Regional de Educação vem promovendo encontros semanalmente com os supervisores pedagógicos de cada instituição da rede, em Bento. Sídia também ressalta que a CRE está reunindo os diretores e a partir dos conteúdos enviados das mantenedoras, repassa às instituições, que são orientadas a começarem a fazer estudos.
Sobre a previsão inicial de que a BNCC seja adotada como metodologia pelas escolas, ela conta que embora a perspectiva seja para 2020, este período pode ser estendido. Ainda sobre a preparação, a coordenadora pedagógica da 16ª CRE reforça que, são muitas mudanças, além do espaço físico, principalmente, na parte pedagógica. Tem que se pensar também na preparação de professores para que isso aconteça”, avalia.

Tendo como base a reformulação no ensino fundamental, Sídia acredita que haverá um momento que os professores possam propor emendas e sugestões de modificações. Por fim, a pedagoga avalia que passadas três versões, a BNCC ainda deve sofrer alterações até a sua outorga.

Coordenador da CRE, Leonir Razador entende a BNCC como uma atualização necessária para a educação . Foto: Lorenzo Franchi.

Mudanças

Se ainda não há esclarecimentos referentes à metodologia e disciplinas que devem ou não ser exclusas ou inseridas, o novo currículo do Ensino Médio apresenta um ganho significativo de horas aulas. A mudança visa uma qualificação integrada, com desenvolvimento técnico profissionalizante. Do total da carga horária nos três anos de ensino médio, 1.800 deverão ser guiadas pela BNCC. As demais 1.200 passarão a pertencer aos “itinerários formativos”, qual a escolas poderão oferecer uma formação aprofundada ou com base em uma ou mais áreas do conhecimento.

Conforme o coordenador da 16ª CRE, que atende a 25 municípios da região da Serra Gaúcha- contando Bento Gonçalves-, Leonir Razador, o Rio Grande do Sul leva uma ligeira vantagem sobre outros Estados por já ter 200h a mais no currículo. Segundo ele, este fator deve facilitar a adaptação, embora sejam necessários estudos para aplicação.

Outra atração já repercutida sobre a BNCC é relativa à organização do conteúdo para áreas de conhecimento. De acordo com o MEC, a organização se dará em: linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e ciências humanas e sociais aplicadas. Matemática e Português são considerados essenciais e devem ser inseridas em todas as áreas.

Nova Base já é debatida em sala de aula. Foto: Lorenzo Franchi.

Para 16ªCRE, BNCC é positiva

Tendo como norte o desenvolvimento de um novo foco educacional Razador discorre algumas ponderações. Para ele, a BNCC se faz necessária devido à atualização e aproximação com a tecnologia. “Vivemos uma realidade que constatamos determinadas situações. Temos, por exemplo, alunos que chegam com problemas de interpretação de texto, na matemática. Algo tem que ser feito. O nosso sistema de educação hoje é muito de gaveta, cada disciplina separada da outra, há distanciamento. Há matérias que devem estar integradas em outras”, analisa.

Em meio aos elogios à proposta do Ministério da Educação, o coordenador demonstra-se incomodado quanto aos fatores de infraestrutura, obrigatoriedade, recursos financeiros e humanos. “Um fator que nos preocupa é a possibilidade da opção por parte do aluno, após um ano e meio, optar por uma área. O estudante pode chegar na metade do período e perceber que não é aquilo que esperava. Como faremos a adaptação para outra?”, questiona.

Quanto a estrutura física, Razador teme que, se a mudança for imediata, as escolas tenham que dobrar de tamanho. Sobre os profissionais, ele adverte quanto a falta
de professores na região e a pouca formação. O coordenador ainda observa que municípios que tem só uma escola do tipo, como Monte Belo
do Sul e Guabiju, terão
turmas pequenas e o ensino prejudicado.

Por fim, Razador acredita que a construção do novo currículo deve estar apoiada no pensar e fazer, em sustento das realidades. “Teremos que ir adaptando. O conhecimento deve ser concreto, não algo temporário. Senão, vai chegar 2020 e teremos que dizer: não será possível isso”, avalia.

Opinião dos alunos

Na escola não tive conhecimento, mas pela televisão, pela internet. Gostei muito da proposta, principalmente na parte que compete ao aluno escolher seu caminho, conforme o gosto pessoal. Gosto da parte de tecnologia. Quero fazer um curso técnico, uma faculdade na área. Isso vai ser bom . Igor Araujo da Silva, 16 anos.

Tenho conhecimento, fui atrás, pesquisei. Acho importante atualizar. Hoje, eu acho muito fácil. É bom ter uma nova referência. A proposta de poder escolher a área que mais se encaixa, mais tem afinidade vai ser bom para o aluno e para a escola, todos tem a ganhar. Manoela Louise Motta, 16 anos.

Opinião de instituições:

“A Secretaria de Educação do RS tem passado todo o cronograma aprofundado da base curricular. Estamos organizando programas, reuniões, seminários, mini cursos na escola, com certificado, em que o professor terá 4 horas de atividades. tanto na instituição, quanto em casa para avaliar as propostas e trazer ponderamentos. Até novembro, devemos ter toda a documentação da escola pronta, novas propostas de ensino, uma metodologia diferente. A escola terá que se adaptar a uma nova proposta pedagógica, com uma grade curricular reformulada. A mudança começa nos anos iniciais, onde até o segundo ano, o aluno terá que sair alfabetizado- hoje é até o terceiro ano. Isso intensifica o ensino e aprofunda, prepara para o Ensino Médio”. Diretora Ivanete Rosa Trevisan Dal’Osto- EMEF Professora Liette Tesser Pozza

“Entendo que não houve tempo para a discussão ampla, na qual se possa ouvir os professores que atuam diretamente na sala de aula, conquanto se faça necessária a contribuição de todos, para que a Base Comum Curricular possa se efetivar como um acréscimo ao trabalho pedagógico, não sendo apenas uma decisão tomada por força de Lei, mas sim uma sistemática que agregue bem estar docente e discente”. Diretora Silvania Luiza Chiarello- Colégio Estadual Dona Isabel

“Estamos cientes, e começamos algumas discussões e análises ainda no ano passado. Como parte do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) seguiremos as orientações emanadas pela Pró-reitoria de Ensino (PROEN), sempre com a valorização e a busca pela consolidação do Ensino Médio Integrado e da Educação Profissional”.
Diretor de Ensino Rubilar Simões Junior- Instituto Federal Farroupilha