Enxugamento no orçamento nos últimos dias de Governo Temer reduz pela metade o número de amparados pela verba federal


Desde junho de 2004, quando foi implementada a lei 10.891, conhecida como Bolsa-Atleta, esportistas brasileiros passaram a receber verbas públicas para seguirem o sonho de viver exclusivamente de suas paixões pelas mais variadas modalidades. Porém, para 2019, cerca de 50% do número de bolsas foram cortadas com a lista oficial divulgada ao fim do ano passado. A confirmação veio em 29 de dezembro, após assinatura do então presidente Michel Temer em uma de suas últimas ações como líder do executivo do país. Antes com quatro representantes, Bento Gonçalves e cidades da região sofreram com o novo cenário e passaram de quatro para dois desportistas com benefício das verbas.

A medida de Temer no “apagar das luzes” de seu mandato resultou no corte de parte das categorias beneficiadas. Desportistas que cumpriam pré-requisitos voltados à formação e que entravam nas categorias atleta estudantil e atleta de base do Bolsa- Atleta não serão mais considerados. Em 2018 (relativo às marcas do ano anterior) 444 bolsas foram dadas a atletas estudantis e 254 aos competidores de base — R$ 370 para ambas.

O número total de contemplados pela União passou de 5.830 para 3.058 — corte de 47,5%. Desta forma, seguem com possibilidade de benefício apenas atletas adultos, sendo que parcela destes já recebe patrocínios. Restaram três categorias de Bolsa-Atleta: olímpico e paraolímpico, internacional e nacional.

Ao longo de 2018, quatro esportistas da região receberam benefícios. Porém, destes, apenas dois foram contemplados para o atual ano. Permanecerão com o Bolsa-Atleta dois competidores do mountain bike downhill: o bento-gonçalvense Lucas Bertol e Maicon Pradella, de Garibaldi.

Duas atletas do naipe feminino obtiveram cortes por pleitearem o auxílio através das categorias cortadas pelo Governo Federal: a jogadora de vôlei de categoria de base, natural de Bento Gonçalves, Paula Panno; assim como competidora de atletismo Hélen Spadari, de Pinto Bandeira.

Nova realidade

Após alguns anos com o vínculo junto ao Bolsa-Atleta, Hélen Spadari não contará com a verba federal. Para este ano, ela havia pleiteado a bolsa para atleta estudantil, porém o corte por parte da União inviabilizou os planos. “O valor serviria para custear treinamentos, fisioterapia e recuperação de lesão. Era um pouco que ajudava e que não teremos mais. Agora temos que estudar e trabalhar ainda mais para poder seguir”, lamentou Hélen.

De acordo com a campeã brasileira sub-23 dos 3000m com obstáculos em 2018, um cenário pouco favorável para o atletismo no país é previsto. “O problema não é somente a bolsa. Todos têm sentido os cortes de verbas para o esporte há algum tempo. Já vejo muita gente do atletismo desistindo”, lamenta.

A expectativa da pinto-bandeirense é manter-se em competição mesmo sem o Bolsa-Atleta, porém o planejamento deve ser alterado. Era previsto um treinamento especial na Colômbia, em território de elevada altitude que impactaria na performance da corredora, mas os custos tornaram-se dificultosos com a impossibilidade do uso da verba federal.

Um dos remanescentes

Viver do esporte é “artigo de luxo” para poucas pessoas, principalmente no Brasil. Nem mesmo os valores destinados via Bolsa-Atleta são capazes de cobrir todos os gastos que este estilo de vida demanda. Entretanto os recursos são capazes de viabilizar participações em competições ao longo do ano.

Lucas Bertol utilizou o recurso pela primeira vez em 2013 e desde então busca a possibilidade de obtenção dos valores. Ele conseguiu a manutenção do Bolsa-Atleta para 2019 e avalia como fundamental para seguir atuando no mountain bike downhill. “Não dá para levar uma vida de atleta profissional com o valor da bolsa, mas hoje é o que me mantém ativo nos Circuitos Nacional e Internacional. Ela garante o custeio de uma boa parte das despesas”, calcula.

Bertol é tricampeão brasileiro e nesta temporada buscará o quarto título. Em âmbito internacional, ele participará do Campeonato Pan-Americano e ainda pretende competir no Mundial de Downhill.