Gostei dessa metáfora que ouvi numa teleconferência, para ilustrar a vida de pessoas que não têm perspectivas, como mendigos, desempregados e os que estão em guerra. De imediato me veio à mente duas imagens: a do malabarista se equilibrando numa corda bamba, sobre enorme penhasco,
e a do sujeito aprisionado numa espécie de limbo, zona amorfa e sem alegria, embora sem muitas dores. São duas situações limítrofes e dramáticas da existência humana, passíveis de superação por alguns, fatais para outros. Enquadram-se, aqui, pessoas que sofrem de depressão profunda, ou que têm a vida de filho(s) roubada, ou que, por alguma razão, não conseguem embalar qualquer esperança, vivendo por viver…

Mas, no dia a dia, em proporção infinitamente menor às situações extremas acima descritas, pode-se ter a vida em suspenso… Quando chove, por exemplo, e o trânsito fica congestionado de tal forma, que o cidadão se vê pressionado por todos os lados… às vezes, até pelo lado de dentro, no caso de repentina dor de barriga; durante uma crise de labirintite, quando se perde o chão; no sorteio da mega sena, quando a realidade cede espaço à fantasia; num apagão, numa tempestade, numa tragédia, quando desmoronam tetos e afetos; num consultório médico, à espera de um diagnóstico; até no Tapete Vermelho, onde desfilam talentos e vaidades de Hollywood por algumas glamorosas horas. Enfim, são inúmeras as situações cotidianas que põem a vida em suspenso, mas vou me deter numa em particular, que envolve minha família. A cena:

 Estava eu em plena rua central, quando me deparei numa vitrina de um estúdio fotográfico e me encantei com a exposição… Então pensei: por que não imitá-la? Por que não imitá-la? Imitei-a! (Parodiando o hilário personagem Armando Volta, criado pelo inesquecível Chico Anísio).

 Pensado e feito! Na manhã seguinte, depositei o baú das fotografias no balcão do Ateliê, para a confecção de quadros. O resultado foi uma bela galeria com ascendentes e descendentes em nossa sala de estar. A vida em suspenso! Literalmente.
A idéia era fazer uma surpresa. E foi… em especial para mim. O pessoal chegou e ficou olhando de um jeito reticente, sem falar uma frase inteira – alguns monossílabos herdados dos hits musicais da hora quebravam o silêncio. Aquilo já estava me dando nos nervos.

-E então? – perguntei ansiosa.

Finalmente, um dos críticos abriu um largo sorriso. Depois, me dando um abraço de consolo, proferiu a sentença:

-Deeeeni (sinônimo de “mãe”, assim como “denimari”, “madre” ou “madrezita”)…

Depois de breve pausa para a escolha das palavras, ele disparou:
-Colocando uma cruz, os romeiros de Caravággio vêm todos pra cá…