Em todo o acontecimento histórico encontramos duas versões: a dos vencedores e a dos vencidos.No tocante a revolução farroupilha é importante conhecer os fatos que se passaram de 1835 a 1845, já que estes dividiram a história do Rio Grande do Sul, causando profundas modificações em relação à propriedade, a economia e as tradições.

Até 1835 existia um tipo de gaúcho: aquele indivíduo mestiço, filho de uma índia com um branco, que vivia livre e independente. Os campos e as propriedades, estavam abertos e independentes. Dizem alguns historiadores que andava-se dias e dias pelo Rio Grande do Sul, sem encontrar uma pessoa, casa ou propriedade. Era possível carnear bovinos sem maiores problemas.

Após, a Revolução Farroupilha em 1845, esta situação toda mudou. Os campos foram cercados, as propriedades passaram a ser claramente definidas. Foi a partir desse momento que o proprietário ou o latifundiário se preocupou em acabar com a figura do gaúcho independente, do peão solto, isolado, transformando-o no peão de estância. “Para sustentar esta situação, a ideologia dominante da época, elabora todo um discurso. Isso se faz, sobretudo, com a inclusão de fatos da Revolução Farroupilha através da narrativa literária e poética. Se transfere para a literatura a figura do gaúcho heroico, que na prática deixou de existir, tornando-se mero personagem de narrativa.

Surgiram, assim, os primeiros romances sobre a Revolução Farroupilha, transformando Bento Gonçalves da Silva e todos seus companheiros em grandes heróis e os farroupilhas em corajosos soldados. Paralelo a isso, proletarizava-se e explorava-se este mesmo soldado que voltava à condição humilde de peão de estância.

Essa situação se deteriora de tal maneira, sobretudo na área de charqueada, na região sul do estado, onde esse peão não tinha sequer o direito à carne. O dono da charqueada preferia dar os restos de carne aos cachorros do que aos trabalhadores, como bem registra Pedro Vani no romance “Charqueadas”. Outro aspecto que encontramos no Movimento Farroupilha, é que normalmente se fala nele como um acontecimento unitário, quando na realidade a Revolução Farroupilha tem várias tendências. São diferentes os grupos e as posições. Uns pensavam numa República Presidencialista, outros no Parlamentarista, outros na desvinculação total do Rio Grande do Sul com o Brasil e alguns, ao contrário, queriam a permanência com a formação de uma federação brasileira, que não permanecesse vinculada ao Uruguai e aos países do Prata de um modo geral.

São estes grupos que, na decorrência do movimento dos “dez anos”, mostraram gradualmente as contradições e os interesses diferenciados e, a partir de 1842, esses interesses são bem explorados pelo então Duque de Caxias que obtêm a vitória militar contra os revoltosos. Para tanto, joga com o próprio Onofre Pires e, principalmente, com Bento Ribeiro que, no decorrer da Revolução, ora estava com os revolucionários, ora com os legalistas. [continua na próxima edição.]
“Você conhece a história do nosso estado e do nosso município?”