Me sinto roubada, surrupiada, escorchada. E não é só (só???) pelas taxas nossas de cada dia que nos fazem trabalhar cinco meses para o governo que divide o bolo entre os seus. Por falar nisso, embora estejamos a anos-luz da civilização suméria (4.000 anos A.C.), foi lá que tudo começou. Malditos reis que tiveram a ideia de obrigar o povo a trabalhar para eles durante cinco meses de cada ano e, mais tarde, trocar os serviços por tributos. A moda pegou feio.

Como ia dizendo, outro motivo está me deixando “p” da vida: fui multada. Aliás, é a segunda vez que isso acontece em minha longa “carreira” como motorista no trânsito maluco de Bento.

A primeira vez a gente nunca esquece, nem dos detalhes. Não transgredi por excesso, mas por falta. No meu kit dos primeiros socorros, não constavam aquelas miudezas que não fariam nem cócegas em caso de acidente. Me respondam com toda a sinceridade, o que é mais útil num veículo, ataduras de crepe, esparadrapo, gases, luvas e uma tesoura de ponta romba (já imaginaram, em plena rodovia, o leigo cortando as vestes do acidentado pra ver se tem ferimentos embaixo? E, em caso de sangramento, desmaiar em cima do ferido?) Mas, retomando: é mais útil esse material de escola primária ou um kit contendo fio-dental, pente e laquê? Pois é! Tão suspeita aquela lei que, um ano depois, foi revogada.

Antes disso teve a corrida dos extintores tipo ABC. Claro, como cidadã alfabetizada, tratei de adquirir o equipamento. Mas fico imaginando se teria competência para acioná-lo na hora do pânico não tendo nenhum treinamento… Enfim, depois de muita gente ter faturado, a lei foi flexibilizada.

A indústria da multa tem um apetite arrecadatório que engorda os cofres públicos e nem por isso protege os cidadãos. Mas não há como negar que é preciso frear abusos de motoristas irresponsáveis, que põem em risco a própria vida e a dos outros. Todavia não através de resoluções bizarras cujo foco é a receita.

Ah, minha segunda multa chegou na semana passada. Surpresa com a notificação, tratei logo de ver a causa: faróis baixos desligados num trechinho de 200 metros de rodovia, próximo ao perímetro urbano, numa manhã ensolarada.

Está certo! Existe a lei de 13.290 de 2016, que eu jurava ter sempre respeitado. Por isso o espanto.

Estou ainda remoendo e me indagando em qual momento teria descumprido a ordem se a primeira coisa que faço, ao embarcar, é dar um chique naquela coisinha agarrada no treco preso ao volante… Um clique… Ô Ô… Um clique liga… as lanternas???