Haitianos se mantém como maior movimento em Bento, mas ainda lutam contra a língua na busca pelo emprego

O debate em torno dos imigrantes voltou a pauta no cenário brasileiro com a vinda de venezuelanos que atravessaram a fronteira com Roraima na busca nova vida. Em Bento Gonçalves, a imigração faz parte da história da cidade pelos italianos, mas também por receber pessoas de diversos países.

Porém, nos últimos anos, o número de imigrantes no município apresenta leve queda. Em outubro do ano passado, a Secretaria de Habitação e Assistência Social (Semhas) registrava mediante ao Cadastro Único municipal 707 famílias de imigrantes inscritas em um total de 921 pessoas.
Já na última atualização feita pela Semhas, em julho deste ano, o número estava em 908 imigrantes beirando a casa de mil pessoas.

A grande maioria destas inscrições se mantém sendo de imigrantes oriundos do Haiti. De acordo com os dados do Semhas, são 875 haitianos que estão cadastrados nos programas do governo municipal. Número abaixo do que já foi registrado, por exemplo, entre 2014 e 2015, com a presença de mais de 1.5 mil refugiados na cidade.

A socialização na cultura local, principalmente o entendimento com a língua portuguesa e a entrada no mercado de trabalho, ainda são algumas das barreiras enfrentadas pelos imigrantes. Um dos mecanismos de ajuda a essa parcela da população é oferecida pelo Instituto Federal (IFRS) com aulas de português. A procura inicial pelo curso superou a expectativa e o número de vagas ofertadas, segundo a professora Carina Fior Postingher Balzan. “O curso de extensão está sendo composto apenas por haitianos, mas também era ofertado para os demais refugiados. O interesse dessa parcela da população foi muito grande, nos surpreendeu, pois tínhamos apenas 30 vagas e mais de 120 pessoas nos procuram interessadas. Isso é muito positivo”, exalta.

A média de idade dos alunos é de 30 anos e com níveis distintos de escolaridade, conforme Carina. “Os que estão a mais tempo pelo Estado e em Bento Gonçalves, conseguem compreender melhor, mas têm dificuldades de expressão oral e principalmente escrita. Outros tem dificuldades de compreensão. É uma turma heterogênea pela formação vinda do país deles”, ressalta.
Conforme Carina, a busca dos alunos é pela inserção no mercado de trabalho. “O trabalho que fizemos é desde o básico, na apresentação, vocabulário, formação de frase, conhecimento de verbos, tudo levando em consideração a sociabilidade para que consigam se inserir no mercado de trabalho que é um dos objetivos”, explica.

O Poder Público, também ajuda nesse processo segundo a secretária de Habitação e Assistência Social, Milena Bassani,. “Assim como para os beneficiados do Bolsa Família, há oferta de cursos, aulas de português e o encaminhamento ao mercado”, lembra.

Com relação a queda no número de imigrantes na cidade, para Milena Bassani, a presença deles no dia a dia é maior que a registrada no Cadastro Único. “Alguns imigrantes não procuram os serviços do município no CRAS e entram no sistema. E muitos outros, são andarilhos que ficam na cidade por um ou máximo três dias para vender seus produtos e vão embora, por isso acabam não entrando na contagem” salienta.

Além dos haitianos, estão cadastrados cerca de 33 imigrantes oriundos de vários países sul-americanos.

Sem registro de venezuelanos

Conforme Milena, Bento Gonçalves não recebeu nenhuma solicitação do Governo Federal sobre a possibilidade de receber os refugiados venezuelanos. “A decisão das cidades que estão ou que irão receber esses imigrantes é do Governo Federal. Eu, particularmente, não acredito que no Estado irá se expandir além do que foi sinalizado. Espontaneamente como aconteceu com os haitianos e alguns senegaleses em 2011, não temos nenhum registro ou que vieram nos procurar através dos nossos serviços”, relata.