Comumente no banho, a pauta dessa semana saiu desenfreada. No início muito fresca e certa que seria sobre o que é a fé e como eu a estava vivenciando. Enquanto passava alguns dias com os pensamentos aéreos, pude observar e dar atenção à detalhes que há muito não conseguia ver.

A inspiração inicial foi achar que o segredo era a falta de foco no foco. Quando temos um grande sonho, objetivo, é mais fácil não prestarmos atenção no processo. Acho que a maioria dos grandes gênios da humanidade estão na história com suas trajetórias de vida para nos mostrar um pouco disso (burburinho), porém, não digo que está errado (silêncio).

Acontece que a partir daí e depois dessa comparação, meu foco na pauta se perdeu. Eu não tinha mais argumentos e não estava certa. E no fim das contas não estava falando sobre fé. Talvez estivesse, do meu ponto de vista mas ele não era unânime e não tinha consistência, só parecia que eu tinha usado drogas.

E porque estou compartilhando um bloqueio criativo?

Porque somos acostumados a julgar pelo resultado que está visível. Adoramos histórias de superação, mas não gostaríamos de ser a personagem da metade do livro. Queremos ser a personagem do final da história. Queremos chegar lá assim como fulano chegou. Alguns ainda preferem ser só o leitor mesmo, que é para não fazer muito esforço.

Não sabemos e não entendemos quantas vezes foi preciso refazer ou quanto tempo demorou. Michelangelo demorou quatro anos para pintar a abóbada da Capela Sistina, mesmo depois de ter protestado por ser escultor, e não pintor. Em 1505 recebeu a encomenda do monumento fúnebre do papa Júlio II, que ocupou 40 anos de sua vida. Em 1535 foi nomeado pelo Papa Paulo III, “supremo arquiteto, escultor e pintor dos palácios apostólicos.” O artista também se dedicou à poesia. Próximo da sua morte desabafou em um poema “Na verdade, nunca houve um só dia que tenha sido totalmente meu”.

Ele era apaixonado pela grandiosidade na arquitetura, esse era o seu combustível, e não quer dizer que seja uma história triste, de alguém que passou todos os dias de sua humilde existência fazendo algo que só teve valorização pública após sua morte. Para Michelangelo, os esforços faziam parte da beleza do resultado, e não era nenhum sacrifício.

Não precisamos passar pelas mesmas coisas, o que precisamos fazer é respeitar. Não julgar o caminho pela linha de chegada, não julgar o livro pela capa, aquelas coisas todas. Sacrifício é uma palavra muito negativa para fazer referência às escolhas que fazemos e o caminho cheio de desafios que percorremos.

E então, o que é a fé, se não uma conexão wi-fi?

Talvez o meu caminho não seja exemplo nem vire uma biografia, mas imaginar que todo o mundo passa por momentos difíceis e de falta de criatividade, me faz sentir que está tudo certo! No fim das contas isso é uma história real, de um bloqueio criativo real, de alguém que ia escrever sobre a fé, mas que não conseguiu explicá-la (conexão wi-fi? é sério?), só senti-la.