Ao longo de 2017, as 27 operações da 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP) de Bento Gonçalves resultaram em 50 prisões por tráfico de drogas – principal atribuição das investigações da Delegacia. Dando sequência à série de entrevistas sobre a avaliação do ano na segurança pública, a delegada titular da 1ª DP, Maria Isabel Zerman, comentou esses números e outras questões pertinentes do setor em 2017.

Jornal Semanário: Em 2017, pudemos perceber, infelizmente, o aumento do número de homicídios em relação ao ano passado (até o fechamento desta edição, foram 33 crimes). Como a 1ª DP lida com a questão do tráfico de drogas, como vocês percebem essa relação entre os crimes?
Maria Isabel Zerman: O homicídio e o tráfico são dois delitos que nos preocupam bastante. O homicídio por ser o crime mais grave, por envolver vidas, e o tráfico, que é um crime hediondo. A gente vê, na maioria dos homicídios que estão em atribuição da 1ª DP (16 casos), as vítimas são relacionadas com o tráfico. Ou por ter antecedentes, ou por posse de drogas, ou mesmo por receptação e roubo, que são antecedentes criminais muitas vezes relacionados ao tráfico. Quem se envolve com isso busca demonstrar poder, e muitos casos esses acertos de contas são vistos como entendimentos. São coisas que nos preocupam, porque as testemunhas não querem dar depoimentos, por medo. Isso dificulta a apuração da autoria. Algumas denúncias anônimas chegam, mas nada concreto. Isso prejudica o trabalho.

JS: No início de dezembro, ações da Polícia Civil prenderam sete pessoas por tráfico de drogas. Como foi esse trabalho?
Maria Isabel: Três prisões foram feitas em decorrência de um dos homicídios de atribuição da 1ª DP. Queríamos encontrar a arma do crime, e localizamos três pessoas envolvidas com tráfico de drogas. Depois, à noite, quatro pessoas foram presas. Nesse caso sim, era uma investigação específica de tráfico de drogas, a segunda fase de uma operação cujas diligências foram iniciadas em setembro.

JS: Ainda sobre a questão do tráfico de drogas, que análise vocês fazem do trabalho desenvolvido ao longo do ano, não somente em relação às apreensões, mas das investigações e do que foi feito pela DP ao longo do ano?
Maria Isabel: Vemos dados preocupantes. Quando eu cheguei à Bento Gonçalves, em 2010, eram pouquíssimos homicídios por ano. Hoje, estamos com 33, quase o triplo se comparado a anos anteriores. Mesmo com um número de 50 presos por tráfico de drogas em operações ao longo do ano, os crimes continuam. Na verdade, a segurança pública é um problema geral, que abrange vários aspectos. O sistema carcerário lotado, a falta de efetivo da Polícia Civil e da BM, entre outros. Tentamos trabalhar com os recursos que a gente têm, mas infelizmente não damos conta.
JS: Sobre o sistema prisional, como que a vinda do novo presídio seria benéfico para a Polícia Civil e para a segurança pública?
Maria Isabel: Estando em melhores condições, será possível oferecer melhores serviços para os presos. Isso inclui assistência social, para que eles possam trabalhar, saírem do sistema prisional melhores. Com emprego, para sair da vida do crime. Além da superlotação e da questão da dignidade dos presos que ficam nas celas, talvez com um controle maior do Estado, eles consigam trabalhar melhor isso.

JS: A reincidência, especialmente relacionada ao crime de tráfico de drogas, é algo que preocupa?
Maria Isabel: Quem entra no tráfico faz isso pela ilusão do dinheiro fácil. Então, a reincidência é bastante grande, justamente por isso. Além, é claro, da incidência imensa de usuários de drogas que temos em Bento Gonçalves.

JS: Como a 1ª DP tem trabalhado diante dos poucos recursos, e de todos os problemas financeiros enfrentados pelo Estado?
Maria Isabel: A nossa falta de recursos envolve, especialmente, a ausência de pessoal. Não recebemos nenhum policial nos últimos concursos. Estou há quatro anos na 1ª DP, com o mesmo efetivo de quando eu entrei. Estamos com uma promessa de concurso para a Polícia Civil em 2018, então esperamos que isso melhore. Temos um pessoal que trabalha muito, se esforça, especialmente na questão do tráfico.

JS: Essa defasagem do efetivo não preocupa, já que há quatro anos a criminalidade era menor do que é hoje?
Maria Isabel: É muito preocupante. Toda a Polícia Civil do Rio Grande do Sul trabalha assim. Hoje, além do maior número de criminosos, eles estão cada vez mais audaciosos, usando outras técnicas para praticar crimes. Internet, lavagem de dinheiro, entre outros.

JS: Qual tem sido a importância do Consepro diante desse cenário?
Maria Isabel: Nos auxiliou bastante esse ano. Tanto no conserto de viaturas, ou equipando com materiais de expediente, então estamos contentes com a contribuição do Consepro. Esperamos que esse apoio continue para 2018.

JS: Além dos homicídios e do tráfico, o que mais preocupa a 1ª DP?
Maria Isabel: Como não trabalhamos com roubos (atribuição da 2ª DP), o que nos preocupa são os crimes contra o patrimônio, principalmente os furtos. Em sua maioria, também são praticados por usuários de drogas, que já não têm mais recursos para comprar a droga, e acabam investindo contra o patrimônio alheio. Então, furtos em residências, em veículos, são coisas que nos preocupam muito.

JS: A delegada estava presente na reunião que discutiu a criação da Guarda Municipal para Bento Gonçalves. O que pensa sobre isso, e de que forma pode contribuir para a segurança pública?
Maria Isabel: Mais agentes do Estado na rua podem ajudar a coibir a prática de crimes. Mas é preciso que sejam pessoas preparadas e devidamente capacitadas para isso. Vejo com bons olhos, desde que o pessoal receba a preparação adequada e atue na sua atribuição.

JS: Quais são os principais números da 1ª DP ao longo do ano?
Maria Isabel: Tivemos 27 operações envolvendo tráfico de drogas, que resultaram em 50 presos. Foram apreendidos 26 carros, 10 quilos de maconha, 110 gramas de crack, o que resulta em mais de uma centena de pedras de crack. Além disso, 14 quilos de cocaína, e 93 comprimidos de ecstasy.

JS: Que avaliação é possível fazer desses números?
Maria Isabel: Não tivemos uma apreensão expressiva de drogas. Ano passado tivemos apreensões mais significativa de substâncias. Mas não vejo como menos trabalho, o que o resultado tenha diminuído. Até porque foram 50 presos. O trabalho da Brigada Militar também contribui. Em outros anos, tivemos mais apreensões, mas em decorrência da própria atuação das polícias, os criminosos estão mais alertas. O trabalho é considerado positivo, com operações que exigem bastante cuidado, diversas diligências. Mesmo com redução de aplicação de recursos e parcelamento de salários, fico feliz com o trabalho da 1ª DP.

JS: O que é possível projetar para 2018?
Maria Isabel: A gente espera que venham mais recursos de pessoal, em primeiro lugar, para contribuir com o trabalho. Depois, que as várias operações, desde tráfico de drogas ou crimes contra o patrimônio, e até mesmo crimes ambientais, sigam conforme o planejamento que já estamos preparando.